I. Contexto
No final da década de ’60, a Leyland era um poderoso construtor britânico. À imagem das actuais holdings mundiais, distiguiam-se no seio do grupo a British Leyland, a Ashor Leyland, a Leyland Trucks e a Australian Leyland, entre outras.
As várias dependências da Leyland gozavam de uma suposta autonomia perante a “casa-mãe”, e foi num âmbito puramente experimentalista que a Australian Leyland, no início de 1970, se propôs a desenvolver um novo veículo.
II. Australian Leyland
A divisão australiana da Leyland era, no mínimo, arrojada. A investigação automóvel era activa, e no final dos anos ’60, à Australian Leyland eram associados protótipos invulgares: Por entre alguns Morris Marina V8, Mini Coopers alterados, ou triviais episódios de tuning mecânico, insinuava-se um desejo de construir algo de genuínamente australiano.
A British Leyland nem sempre reagiu bem às invenções da sua congénere Australiana, que foram, por inúmeras vezes, censuradas, sendo transportadas para Inglaterra e posteriormente destruídas.
Em 1969, e indo ao encontro dos desejos da Leyland australiana, a British Leyland define a concepção de dois novos modelos para o mercado australiano. Um veículo para um segmento médio (rápidamente cancelado com a importação do “Marina” para a Austrália), e um coupé de grandes dimensões, para conpetir com o modelos como o Ford Falcon ou o Dodge Charger.
Foi neste quadro que surgiu o Leyland Force 7, a mais ambiciosa acção da Australian Leyland, no que toca à produção automóvel.
III. Conceito
O conceito do Force 7 era simples. Com base na berlina P76 construir-se-ia um hatchback de três portas, mais luxuoso, melhor motorizado, com um comportamento dinâmico revisto.
As perspectivas comerciais para o Force 7 eram animadoras. O facto do mercado dos coupés de luxo estar ainda por explorar no continente Australiano era uma evidência; A exclusividade deste tipo de produto satisfaria os de coleccionadores de automóveis, um pouco por todo o mundo; Os custos de produção não seriam nunca muito elevados, uma vez que a partilha de chassis e de componentes com o P76 berlina, por um lado, e de motores com a Rover, por outro, eram dados adquiridos.
No início de 1973 – altura em que já era dada como “inevitável” a produção do Force 7 - o panorama económico da Leyland na Australia começava a tornar-se sombrio. As Berlinas P76 não estavam a obter o sucesso desejado, sendo apelidadas por P38, por uns (metade de P76, porque só se conseguia escoar metade da produção), ou por “Dud”, “Lemon” ou outros nicknames mais ou menos afectuosos, por outros. Paralelamente a estas críticas, surgiam os "P-nutz", fanáticos por aquilo que era, efectivamente, o primeiro carro familiar australiano.
Na prática e perante uma escassez de receitas, o projecto Force 7 passava a ser cada vez mais indesejado pela Leyland Britânica, contrastando com uma crescente aceitação pelos australianos.
Enquanto o italiano Michelotti era contratado, quase de forma clandestina, para desenvolver o design do force 7, que se pretendia arrojado e requintado - Michelotti já tinha desenvolvido a berlina P76 - a Leyland australiana conseguia assegurar os blocos Rover V8 em alumínio, de 3500cc, referenciais em rendimento e fiabilidade.
IV. Projecto "Force 7"
A chefiar o projecto Force 7 estava Roger Foy, reconhecido engenheiro mecânico no universo da Leyland. Roger Foy estava empenhado em desenvolver um automóvel exclusivo e irrepreensível, facto que se veio a verificar, anos depois...
Enquanto dos estudos de Michelotti se sugeria um coupé de linhas agressivas, era encetada uma assumida evolução do bloco V8 Rover.
Há que referir que até 1973, todos os Leyland Australianos eram equipados por um pesado seis cilindros de 2.2L de cilindrada. A adopção deste bloco, em alumínio, trouxe óbvias vantagens. Evidenciaram-se maiores níveis de potência e fiabilidade, sem acréscimo de peso (!): O bloco V8 de 3.5L, em alumínio, pesava o mesmo que o seu antecessor, em ferro. Mais curioso é o facto deste celebérrimo V8 ter sido desenvolvido e utilizado pela Buick, nos anos '60, tendo, à época, dado alguns problemas - dizia-se, por exemplo, que o alumínio utilizado era demasiado poroso, tendo-se relatado diversas deficiências no seu desempenho.
Registou-se um aumento significativo de cilindrada. De 3532 cc., passou-se a 4416 cc; a taxa de compressão desceu, passando de 10.50:1 para 9.00:1; o binário passou de 273 para 386 nm; registou-se um aumento de potencia de 42 cavalos, ficando o Force 7 com uns significativos 195 cavalos.
Concluída a evolução do motor Rover - verificada tamanha revolução, a "Leyland Australia" começou de imediato a suprimir os motores 2.2 das berlinas P76, disseminando-se o 3.5V8 por toda a gama - e determinada a estética exterior do Force 7, faltava definir interiores e níveis de equipamento.
Inicialmente terão sido idealizados três níveis distintos de equipamento: Por ordem crescente de motorizações e equipamento, planearam-se as versões “Force 7” (chegou pensar-se alocar ao modelo base o obsoleto bloco 2.2), “Force 7V" (195 cv) e “Tour de Force”(250 cv).
Com a sedimentação de determinados princípios, tornou-se ponto assente que a este Leyland só deveriam corresponder duas designações: “Force 7V” e “Force 7R”.
Estipulou-se que o nível de equipamento deveria ser o mesmo. E que este deveria ser exemplar. Incluiam-se na lista de equipamento itens como estofos/interior forrados em pele, ar condicionado, ou espelhos eléctricos. Estava ainda prevista a opção de autoblocante e de vidros eléctricos.
À diferênciação entre as versões “7V” e “7R” corresponderia então uma motorização ainda mais musculada. De 195 cavalos, no Force 7V, passavam-se a contar 250, no Force 7R.
RWD de excelência, o "Leyland Force 7R" assumia-se assim enquanto muscle car, com a vantagem de se contar com um chassis bem trabalhado e com uma caixa manual – algo de notável no mercado norte-americano, do qual se importavam os standards australianos.
Foram criadas algumas analogias entre este Leyland e o “coupé da moda” norte-americano, o Ford Falcon: Parecia óbvia a superioridade do modelo australiano, com mais rigidez e menor complexadidade de assemblagem.
Dizia-se ainda, na época, que o modificado V8 Rover chegaria, com facilidade, aos 350 cavalos, sem sobrealimentação. Terá mesmo existido um projecto que transformava um 4.4 V8 de 192 cavalos num “4.4 V8 Supercharged”, com mais de 400 cavalos.
V. Vicissitudes
Tudo parecia correr sobre carris: A carroceria possuia reconhecida qualidade e versatilidade, os motores revelavam-se fiáveis, oferecia-se conforto acústico e um bom nível de ergonomia, e o chassis adaptava-se às solicitações de uma condução rápida.
O próprio sistema de fabricação estava verificado e adaptado às necessidades do projecto “Force 7”: Em 1974 já existia uma linha de montagem, para a qual estavam convocados trabalhadores.
Os Mass Media estavam, igualmente, bastante optimistas relativamente a este “Super-Leyland”.
Sem aparente explicação, já com a linha de montagem a trabalhar em pleno, surge uma injustificada e incompreensível ordem, proveniente da British Leyland.
Todo o projecto teria de ser cancelado, e o número de veículos já produzidos deveria ser eliminado, sem excepções. Tinham sido produzidos até à data 56 Leyland Force 7, por entre versões “V” e “R”. Anunciava-se assim, da pior forma, a extinção da Leyland australiana, que deixava mais de oito milhões de libras de dívidas à casa-mãe.
VI. Sobreviventes
Por milagre ou não (há teses que defendem uma manobra intencional para sobre-valorizar os exemplares restantes), salvaram-se oito veículos. Um dos oito “Force 7” era mesmo uma versão “R” de 250 cavalos, testada numa publicação australiana, que de resto, não lhe poupou elogios. Estes oito veículos foram leiloados algum tempo depois do encerramento da linha de montagem, com a condição de nunca poderem ser guiados em estrada, uma vez que não estavam homolgados...
A Sotheby's vendeu um Force 7 enquanto “1974 Leyland Australia Type PP10 Force Seven prototype”, por cerca de 5500 dólares.
A história do carro mais australiano de sempre não acabou bem, com dezenas de exemplares novos a serem esmagados por compactadores de sucata, por "ordens superiores". Nos dias de hoje sabe-se do paradeiro de pouquíssimos Force 7, sendo que um é peça de museu, outro foi transportado para o Reino-Unido, e um terceiro, que percorre, anualmente, alguns encontros de veículos clássicos na Austrália. Certo é que o restrito número de proprietários particulares é absolutamente fanático pelos Force 7, como o atesta este vídeo:
Ironicamente, depois de um P76 com consumos razoáveis para a época, e pensado numa perspectiva de standartização pura, a Leyland foi absorvida pela Rover em 1982, depois de não conseguido lidar com a crise dos combustíveis nem de ultrapassar um conjunto de resultados financeiros menos bons.
Dados Técnicos
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