I. Lagonda
Fundada em 1906 e absorvida em 1947 pela Aston Martin, a Lagonda permaneceu associada a um nicho de mercado bastante específico. Vulgarmente e de forma errónea apelidados de Aston Martins de quatro portas, os Lagonda foram permanecendo à margem do grupo. Destacaram-se, depois da anexação, o "Dois Litros e Meio", de 1946, o "Três Litros", de 1953, o incontornável "Rapide", de 1961, e, já em 1974, o Lagonda I (concebido com base no DBS). O carácter simultaneamente luxuoso e experimentalista da Lagonda evidenciou-se em todas as suas criações. Desde o primeiro "Light Car", lançado em 1913, até aos derradeiros "Vignale", de 1993, e SUV (2009) a todos os veículos - protótipos, de competição ou de produção - corresponderam concepções vanguardistas, de claro avanço tecnológico e estética marcante.
II. Objectivos
Apesar da qualidade evidenciada pelos produtos "Pós Aston Martin", David Brown pretendia mais da Lagonda: O segmento das berlinas de luxo encontrava-se em apreciável agitação e o mercado Norte-Americano era, nesse campo, bastante apetecível. Preconizou-se um design agressivo e polémico, onde a horizontalidade e o anguloso se enfatizavam.
Deste modo, e apesar de inúmeras vozes dissonantes, desde a sua apresentação em 1976 que o Lagonda II, ou "V8", conquistou o seu espaço. De tão falado que foi, o moderníssimo "belo-horrível" assinado por William Towns tornava-se referência obrigatória por entre as berlinas rápidas e de luxo. Mesmo antes de ser produzido.
III. AM Lagonda II
Com o lançamento oficial do Lagonda II, em 24 de Abril de 1978, uma nova corrente de design automóvel era materializada: O "Bold Design" foi polémico na altura, tendo encontrado o seu expoente máximo no Aston Martin Bulldog, esculpido a golpes de canivete.
Mas a este Lagonda correspondia bem mais do que desenho de carroceria. A Aston Martin decidiu rechear o seu interior de equipamento e tecnologia mirabolantes, que, a par de um poderoso motor 5.3L de 284 cavalos (um dos raros elementos herdados do Lagonda de 1974), da integração de um eixo traseiro "De Dion" e de travões de disco ventilados com ABS, o tornaram num "exótico" desejável.
IV. Variantes
Distinguiram-se duas fases de produção do Lagonda V8. Uma primeira fase, "Mk1", compreendida entre 1978 e 1987 (que tinha, por sua vez, duas variantes a nível mecânico, com diferenças estéticas muito subtis - "Mk1-a" e "Mk1-b") e uma segunda, que perdurou até 1990 ("Mk2"). A diferença entre as duas principais fases de produção residiu fundamentalmente no facto de, na segunda, ter sido aplicado um assumido "restyling" ao Lagonda II primordial. A título de observação, terá sido o Lagonda II "Mk1-b" o responsável pelo relançamento da imagem das berlinas Lagonda, tendo demonstrado que a Aston Martin, marca em eterna crise, ainda "respirava".
As alterações estéticas do make 2 são visíveis na carroceria (com menos arestas), nos grupos ópticos dianteiros (as luzes escamoteáveis desaparecem, dando lugar a 6 expressivos farois), traseiros (completamente redesenhados num único alinhamento, resultando mais sóbrios) e nas jantes de 16"(substituindo as originais jantes 15"), integrando pneus 255/60 (todos os pneumáticos que equipavam os Aston Martin de então eram, aliás, fornecidos pela Avon). À versão "Mk2" corresponderia, também, a mais potente versão do bloco de 5.3 litros: Inicialmente carburado (284cv/5000rpm) em 1978, registar-se-ia, 9 anos depois, uma contundente evolução, com uma injecção Magnetti Marelli a viabilizar 305cv/5500rpm.
A transição entre carburação - a cargo de quatro Webers de 42mm - e injecção deu-se em 1985 (versão "Mk1-b").
O Lagonda II Mk2 foi apresentado no salão de Genebra, em 1987, sendo igualmente proposta uma versão "limousine", de maiores dimensões.
Correspondendo, na altura, a um temível concorrente para BMWs série 7, Mercedes Classe S, Bentleys Turbo-R, Cadillacs Seville ou Jaguars Sovereign V12, o Lagonda oferecia soluções tecnológicas inéditas: Toda a instrumentação era feita através de raios catódicos (na versão Mk1, a instrumentação era electrónica); toda a gestão eléctrica era gerida por um processador informático; alguns comandos manuais inteirores eram de configuração "touchpad"; uma conversão feita pela Aston Martin Thickford Ltd. propunha duas televisões, na consola central, e entre os dois bancos da frente; instruções verbais eram disponibilizadas em Francês, Inglês, Alemão ou árabe; um tecto em vinil, introduzido em 1979, podia ser adquirido como "upgrade"; o próprio símbolo da Aston Martin tinha sido redesenhado, passando a integrar a palavra Lagonda.
As jantes de 19" BBS deste Lagonda II, sugerem uma adulteração. Na realidade, são o elemento mais marcante de um agressivo conjunto de modificações efectuado em 1983: No Salão de Frankfurt, a Aston Martin apresentava um Lagonda II Mk1 adaptado ao mercado Norte-Americano. As modificações incluiam ainda novos pára-choques (redimensionados), spoilers, e um novo painel de bordo, onde volante e instrumentos voltavam a registar ligeiras modificações.
Em suma, das variantes feitas entre 1974 e 1990, registam-se:
- 1976-1978: Protótipos
- 1978-1985: "Mk1-a" (465 unidades)
- 1980-1985: Alterações interiores à versão "Mk1-a"
- 1982-1983: Lançamento da primeira versão norte-americana
- 1983-(. . .) : Lagonda II Tickford (2 unidades)
- 1983-1985: Segunda versão norte-americana
- 1984-(. . .) : Lagonda II Tickford Limousine (4 unidades)
- 1985-1987: "Mk1-b" (75 unidades)
- 1987-1990: "Mk2" (105 unidades)
Acima: As três principais soluções de painel de instrumentos, dispostas por ordem cronológica. Na fase "Mk1-a" (à esquerda), chegaram a ser propostos comandos no volante, suprimidos após 1980. O tablier com quadrantes de raios catódicos (ao centro) foi, de todos, o mais vanguardista (ver imagem abaixo), ainda que possuisse uma leitura não necessariamente fácil. O sistema fluorescente (à direita) foi o último a ser adoptado.
Nem tudo correu bem, por entre tanta inovação. A fiabilidade da componente eléctrica e electrónica dos Lagonda II esteve sempre em causa. Há quem sustenha que o anormal número de alterações se tenha devido quase exclusivamente a problemas insolúveis. Os Lagonda foram, por vezes com justiça, apelidados de problemáticos. Por outro lado, e por entre o paradigma da modernidade, não se conseguia melhorar a transmissão, que em ambas as gerações Lagonda estava entregue a uma caixa automática de três velocidades (apesar de minimamente fiável, a caixa Chrysler "TorqueFlite" era lenta e desapaixonante). A evolucão geracional também não resolveu esta contradição: As relações de caixa foram encurtadas, mas nunca foi proposta uma caixa manual que fosse equiparável à unidade motriz.
As prestações dos Lagonda II eram, para um veículo concebido há mais de 30 anos e que pesa mais de duas toneladas, bastante tentadoras: 237 km/h (verificados pela AutoCar), 9,0 segundos nos 0-100 e 20 segundos nos 0-160 são, ainda hoje, valores bastante razoáveis...
Relativamente à produção global, o Lagonda II não foi excepção por entre os restantes Aston Martin de então: Foram produzidos 645 exemplares, (dos quais 631 foram vendidos) integralmente manufacturados. O processo construtivo era de tal modo requintado, que cada automóvel podia implicar até 2200 horas de trabalho até ser dado como concluído. Que o digam os primeiros compradores, vítimas de um prazo de entrega de um ano.O valor de um Lagonda II MK1 era, relativamente ao Reino Unido, de cerca de cem mil euros (79.500 Libras).
Em 1990, um Lagonda custava 85.000 Libras, qualquer coisa como 110.000EUR. Inacessíveis à maioria dos novos-ricos europeus e norte-americanos, estes valores originaram uma inabitual migração de Lagondas para a Ásia e Médio Oriente. Tal facto é demostrável pela elevada percentagem de vendas no médio oriente, na casa dos 30%, superior à verificada nos Estados Unidos e Reino Unido (25%).
V. Dados Técnicos
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