15/03/11

Hispano-Suiza H6C Xenia (1938) [PT]








I. "Hispano-Suiza"

Marca sediada na Catalunha, com data de fundação de 1904. Com tradição mítica no automobilismo, especificamente no segmento de automóveis de grande luxo e de competição, na aeronáutica (nomeadamente em relação à construção de motores para aviação), e na indústria militar em geral, possui os seus antecedentes directos na "La Cuadra", fabricante catalão criado em 1898 pelo oficial de artilharia Emílio De La Cuadra.
Depois de se associar ao genial Marc Brikigt, engenheiro mecânico de nacionalidade Suíça (e com quem produziu motores a gás), a La Cuadra foi aparentemente adquirida em 1902 pelo empresário J. Castro, tendo falido em 1903 já sob o romântico nome "Fábrica Hispano-Suiza de Automóviles".
Castro não desistiu da iniciativa, e em 1904, já com Damien Mateu, banqueiro também de naturalidade helvética, criou a "La Hispano-Suiza Fábrica de Automóviles".



Com unidades fabris em Espanha (Barcelona, Ripoll e Guadalajara) e França (Paris e Bois-Colombes), a Hispano-Suiza perdurou até 1946, intrometendo-se num mercado dominado por ingleses e franceses e tendo, ao longo da sua riquíssima história, concebido alguns dos mais icónicos automóveis de sempre, como o foram os H6B (1922) os J12 (1931) ou os Pourtout (1936). Até a coroa espanhola se deslumbrou com o pedigree e a opulência dos Hispano-Suiza, tendo adquirido mais de trinta viaturas ao longo das quatro décadas de vida da marca.




















II. Conceito H6

O  H6 foi o primeiro Hispano-Suiza a integrar tecnologia directamente associada à aeronáutica. Simultâneamente manufacturado em três fábricas diferentes, caracterizava-se por um chassis reticulado em alumínio, ao qual se associou um seis cilindros, no mesmo material, de 6.6 litros, aproximadamente metade do V12 que Brikigt projectara para a aviação. Também a travagem fora alvo de particular atenção, tendo-se recorrido a quatro travões de tambor em liga leve (os primeiros com assistência de travagem, o que era já de si radical), que conviveram com um então inovador sistema de travagem associado ao veio do motor, reforçando o poder de travagem com a inércia das reduções.
Os H6 revelaram-se veículos fiáveis e extremamente competitivos, com apreciável palmarés desportivo.

III. Saoutchick

Reputado "carrosseur" sediado em Paris em 1906, propriedade do ucraniano Jacques Saoutchick. Produtora de carrocerias de concepção vanguardista e tecnicamente inovadora, em consonância com a iniciativa visionária do seu proprietário, foi responsável pelo desenho de obras-de-arte como o "Saoutchik Delahaye 175S" ou o "Saoutchik Talbot Lago T26 Grand Sport Coupe". A Saoutchick fechou portas em 1955, deixando um legado ímpar de ornamento e de arrojo no seio dos construtores Europeus de automóveis.


Jacques Saoutchick terá ficado com a alcunha de "Viollet Le Duc" pelos seus tratadísticos talento e criatividade. Adiante explanada, a sua decisiva colaboração neste H6C Xenia viria a revelar-se ambiciosa e emblemática.


















IV. Dubonnet Xenia

A base do "Hispano-Suiza H6C Xenia" foi um H6C. A sua existência deveu-se a um delírio do atleta, inventor, piloto automóvel e ás da aviação Andre Dubonnet, que pretendia demonstrar a funcionalidade e desempenho do seu sistema de amortecimento totalmente independente (posteriormente comprado pela General Motors e utilizado por Delahaye, Sinca, Alfa Romeo e Fiat) baseado num conjunto amortecedor-mola por roda, selados, lubrificados com óleo e "deitados", junto ao limite do eixo. De manutenção onerosa, o conjunto permitia, ainda, regulação e afinação.

Mas o também conhecido por "Saoutchik Hispano-Suiza H6C Dubonnet Xenia Coupé" foi muito para além da simples demonstração de eficácia e conforto do "Systéme Dubonnet".













O H6C Xenia foi um dos percursores da aplicação das leis da aerodinâmica no mundo automobilístico, por intermédio de um design de ruptura, assinado pelos especialistas e experimentalistas Jean Andreau e Saoutchik. Num hino ao desenho automóvel e ao art-déco, realçam-se uma frente imponente e escorreita, uma lateral de esbelteza única (onde o vidro é, como nunca, trabalhado), uma traseira de excepcional acutilância, e a utilização de portas corrediças de acesso ao habitáculo. Até em planta o virtuosismo de desenho, plenamente futurista, é assinalável... Toda a carroceria é em painéis de aço, com pormenores verdadeiramente perversos ao nível da execução, desafiando-se o comportamento natural dos materiais e conseguindo-se um nível de acabamento de assombrosa temática e requinte.























O H6C possuia um cockpit decalcado da aviação, acompanhado por um luxo sóbrio e contido no interior, perspectivando-se uma salutar prioridade à pilotagem/condução, em deterimento do vigente espírito de exibição vigente. Mecanicamente, contava-se com os préstimos de um dos blocos de seis cilindros em linha em alumínio, com 8.0L, modificado para 200 cavalos, e de uma caixa manual de três velocidades.
Conseguiam-se, ainda antes da década de '40, cerca de 200km/h... ...Ideais para pulverizar recordes na auto-estrada Paris-Nice.











































O romantismo de todo o projecto está não só patente também na designação "Xenia", nome da então mulher de Dubonnet, como também na peculiar história que o único "Saoutchik Hispano-Suiza H6C Dubonnet Xenia Coupé" possui: Foi construído com o contributo de três fábricas diferentes do grupo Hispano-Suiza, para já nem falar do trabalho da Saoutchik, algo que mesmo hoje em dia é impensável; amado e desejado por Dubonnet, o Xenia conseguiu sobreviver à segunda guerra mundial, tendo sido cuidadosamente escondido no túnel rodoviário de Saint Cloud, em Paris; e ainda hoje o Xenia continua em grande forma. 



Propriedade de Charles Morse, é visitável no Mullin Automotive Museum (California), para além de participar, pontualmente, em festivais de clássicos, onde sistematicamente arrebata prémios e corações. 
Possui um incalculável valor tecnológico, histórico e artístico.





Dados Técnicos




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