I. Génese
Criação do milionário Malcom Bricklin, o SV1 pretendia ser um pequeno desportivo seguro e poupado. Foi desenvolvido entre 1973 e 1974, era fabricado no Canadá (New Brunswick), preconizava um conjunto de soluções inovadoras para a época e possuia uma imagem radical, fortemente apelativa.
II. Argumentos
Essencialmente, era proposto um chassis bastante reforçado, testado segundo critérios ainda hoje tidos por rigorosos, complementado por soluções ao nível da segurança passiva, tais como barras de protecção nas portas, um arco de protecção sobre-dimensionado ou pára-choques retrácteis, capazes de absorver embates até 15 km/h. Sugeria-se, também, que o Bricklin proporcionaria bom prazer de condução, quer pelo comportamento, quer pela unidade motriz adoptada, um V8 AMC de 220cv - suficientes, segundo o fabricante, para o condutor poder fugir de uma situação de perigo iminente, acelerando. Um estranho argumento por entre muitos, adiante explanados.
Os Bricklin utilizavam muitos outros componentes de fabricantes dos Estados Unidos. Curiosamente, fazia-se uso de produtos de vários grupos, rivais entre si: Para além da motorização AMC, as transmissões e a caixa eram Chrysler, as suspensões... Ford.
III. Imagem
A grande imagem de marca do SV1 eram mesmo as "asas de borboleta". À óbvia maior-valia estética e comercial, Malcom Bricklin respondia com o factor segurança: Em caso de incêndio, seria possível abandonar o carro, mesmo se se estivesse no meio do trânsito.
Outro argumento radical foi a não-adopção de cinzeiro-isqueiro, em prol da segurança: Tinha-se convencionado que fumar ao volante era potencialmente perigoso, mesmo sabendo-se que Malcom Bricklin era um radical anti-fumador.
As cinco cores disponíveis ("safety red", "safety orange", "safety green", "safety suntan" e "safety white"), bastante intensas e peculiares, asseguravam, também, uma visibilidade acima da média. Mas até nas cores o paradoxo se fazia sentir, já que se conhecem alguns Bricklin em preto.
Toda a carroceria era composta por painéis em fibra de vidro com pigmentação aditivada no processo de solidificação da fibra. Algo de inédito na indústria automóvel norte-americana.
Facto é que apesar dos argumentos ambíguos, o "Safety Vehicle 1" se comprovou seguro nos testes efectuados. Em choque frontal e em capotamento o Bricklin SV1 passou com distinção. Esteticamente, obtinha-se uma viatura de traço bizarro, mas com bastante identidade, ainda hoje atestada pelo culto que milhares de fãs exibem, na internet ou em meetings específicos.
IV. Reacção do mercado
Depois do seu lançamento, o V8 de origem AMC de 220cv revelou uma tendência crónica para sobreaquecer, após utilização prolongada. Optimizou-se a ventilação do radiador (alguns proprietários aumentaram os radiadores), mas a má-fama permaneceu.
Em 1975 os Bricklin passaram a estar equipados com um V8 Windson Ford, de 5.7 litros, mais amorfo mas teoricamente fiável, de apenas 175 cavalos. Parte substancial da alma do SV1 advinha dos 220cv e dos quase 500nm do bloco inicial (5.9 litros), mais disponível e muito mais rotativo.
A mesma postura "reformista" de '75 incidiu em inúmeros outros elementos menos conseguidos. Até o mecanismo de abertura das portas foi alvo de correcção.
Também os painéis exteriores em fibra trouxeram problemas, que não se conseguiram resolver nem a bem, nem a mal: Por um lado, ao serem de difícil execução, incrementaram os custos de produção; por outro, geraram terríveis dores de cabeça no pós-venda, já que muitos dos Bricklin começaram, literalmente, a estalar e a fissurar.
Alguns SV1 também arderam, coisa que se já de si é inadmissível, ainda é mais inconcebivel quando se trata de um veículo alegadamente concebido a pensar na segurança dos seus ocupantes.
O supostamente aguerrido e económico adversário de Corvettes começava a vacilar. Devido erros de concepção aparentemente evitáveis.
V. Falência
Factos como a ausência de opcionais (a cor e a transmissão eram as únicas variáveis) ou a escassez de equipamento do SV1 - que nem pneu sobresselente incluía, mas que estranhamente oferecia abertura eléctrica das portas, em série - não colheram simpatias. O facto de se estar perante um RWD puro e duro, onde o acessório não era contemplado, a par de graves problemas de financiamento - alguns de contornos bastante escuros - acabaram por corresponder à extinção da Bricklin, em 1976, com prejuízos na ordem dos 20 milhões de dólares.
Despedimentos à parte, os Bricklin acabaram por se tornar míticos. Rivais em exotismo (e em preço) com os DeLorean, possuiam características peculiares, tendo constituído uma mística bastante especial. São enaltecidos por uma apreciável legião de fãs, integram parte essencial do imaginário automobilístico do Canadá e constam no "top 50" dos piores carros de sempre, da revista Time (facto extremamente positivo, tratando-se de uma publicação reaccionária e objectivamente medíocre).
Permanece para a história (e para o mundo da filatelia Canadiana, de acordo com a imagem à esquerda) um produto radical na concepção, marketing e design (este último de autoria de Herb Grasse). Que foi e é, ainda hoje, incompreendido.
Um Bricklin SV1, em bom estado, com motor AMC e caixa manual, é um veículo raro com relevante valor de mercado.
Dados técnicos
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